//Fernando P. discute Comunicação como área e meio na atuação em defesa da Ciência

Fernando P. discute Comunicação como área e meio na atuação em defesa da Ciência

SOCICOM e outras entidades atuam em defesa da ciência. Maior participação pode gerar mais resultados

Fernando Oliveira Paulino*

Ao longo de 2019, a Diretoria da SOCICOM e de outras entidades acadêmicas como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) participaram de atividades de promoção científica com representantes dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. O contato resultou na redução de cortes orçamentários e na expectativa de que a liberdade de cátedra, de extensão e de pesquisa sejam respeitadas.

Pesquisadoras(es) da Comunicação precisamos estar ainda mais mobilizados nos próximos meses em função das propostas que têm sido apresentadas e dos posicionamentos de lideranças e autoridades que demonstram pouco conhecimento ou respeito à pesquisa e com nosso campo do conhecimento.

A Comunicação tem um duplo papel. Tanto deve ser percebida como área do conhecimento com relevante formação de profissionais e pós-graduandos e epistemologia(s) próprias, como também não deixa de ser uma atividade meio com a qual as entidades científicas podem e devem se ambientar de maneira mais intensiva para que a divulgação, o acesso e o impacto do que é feito alcancem mais resultados.

Para isso, representantes da SOCICOM e de outras entidades da comunicação, enviamos propostas à presidência da SBPC na expectativa de que as sugestões encaminhadas sejam colocadas em prática com o intuito de que haja o aprimoramento no contato com as autoridades.

A seguir, sistematizamos algumas ideias apresentadas na expectativa de compartilhar com as(os) colegas da área da Comunicação o que foi proposto, o que está sendo feito e abrir um diálogo em relação a novas ideias que possam ser implementadas.

No âmbito nacional, nos estados e mesmo nos municípios é fundamental mapear os parlamentares e integrantes dos Poderes Executivos que são mais receptivos à ciência para muni-los com informações sobre as atividades acadêmicas e reduzir os efeitos colaterais de discursos anti-acadêmicos que, além dos recursos citados acima, têm gerado ruídos ligados à redução da cobertura de vacina e do aumento da intolerância.

Entendemos que o contato com as autoridades, especialmente os parlamentares, deve ser contínuo e contar com a participação de pesquisadores(as) de todos os estados como um mecanismo essencial para assegurarmos apoio aos projetos de desenvolvimento científico e tecnológico do país. Diante da relevância de tal aproximação, levantamos, a seguir, alguns pontos para que possamos aumentar ainda mais a eficácia nessa relação.

É fundamental definir datas de eventos em função da agenda de autoridades, principalmente integrantes do Legislativo, encontrando dias nos quais parlamentares ainda se encontrem no Congresso e nas Casas Legislativas estaduais e municipais, tentando encontrar acadêmicos que façam o contato com os parlamentares principalmente se tiver informações prévias e origens próximas a vereadores, deputados e senadores.

Igualmente é essencial construir notas técnicas e/ou documentos de posição (“position papers”) para entregar aos parlamentares e demais autoridades públicas informações embasadas que possam lhes auxiliar na preparação de discursos e Projetos de Lei. Tais documentos podem ser produzidos diretamente pela SBPC e demais entidades científicas ou também podem ser realizados por meio de contato com Gabinetes e Assessorias no Congresso Nacional, Assembleias Estaduais e Câmaras Municipais.

Tão ou mais importante que o contato nos corredores é o agendamento prévio com parlamentares e demais autoridades, possibilitando não apenas a entrega de documentos produzidos, mas também a realização de diálogos e produção de fotos e vídeos dos encontros com posterior replicação deste material nos canais de comunicação de entidades científicas e seus filiados.

No intuito de que haja uma atividade coordenada com a participação das emais entidades científicas, a SOCICOM sugeriu que a SBPC coordene a preparação de materiais (especialmente folders) regionalizados por estado ou por grupos temáticos de parlamentares com tópicos específicos e infográficos para auxiliar na compreensão da agenda e fomentar a produção de discursos e posicionamentos dos parlamentares no âmbito regional e nacional. Uma sugestão complementar seria a produção de cartas personalizadas, nominais e mesmo com foto do(a) parlamentar a ser contactado(a) para melhorar a eficácia da aproximação.

Também é importante o acompanhamento da SBPC para fomentar esforços coordenados para a realização de emendas parlamentares por estado no orçamento federal e para a definição de iniciativas que colham, quando necessário, assinaturas de parlamentares e membro do Poder Executivo em escala nacional, estadual e municipal.

De maneira compartilhada, é satisfatório colocar em prática um Plano de Comunicação Estratégica que leve em conta a necessidade de por um lado, realizar uma estratégia de Comunicação diferenciada por estados, municípios e regiões ou por grupos temáticos de parlamentares; e por outro a definição de um documento básico de referência a ser trabalhado por ação realizada pela SBPC e outras entidades científicas.

Tal plano pode possibilitar maior interação entre as assessorias de Comunicação das entidades filiadas à SBPC para otimizar oportunidades. Dentre elas, seria desejável um contato mais intensificado das entidades acadêmicas e as Secretarias de Comunicação de Câmara e Senado, possibilitando maior repercussão nos canais existentes, tais como TV Senado, Rádio Senado, site do Senado, Jornal do Senado e serviços homólogos na Câmara,

Os canais de Comunicação Pública costumam ter momentos com maior possibilidade de agendamento. Para isso, sugeriu-se à SBPC a solicitação de realização de Audiência Pública nas segundas-feiras de manhã no Parlamento, o que pode permitir não apenas a realização do debate em si, mas sua transmissão, registro e repercussão nos canais do Poder Legislativo.

Finalmente, tem sido essencial compartilhar a importância dos princípios de equidade científica para que todas as áreas do conhecimento tenham condições de realizar duas atividades e a percepção de que a Comunicação é um campo constituído com condições de possibilitar maior contato entre o público e a universidade, mas também tem questões estruturais pendentes, muitas delas ligadas à medidas de democratização da Comunicação e de maior interação entre Comunicação e Cidadania.

Se após ler este texto, você tiver disponibilidade para alguma das ações acima ou outras ideias que possam ser colocadas em prática, por favor, envie email para paulino@unb.br

*Fernando Oliveira Paulino é Professor da Faculdade de Comunicação da UnB, Diretor de Relações Internacionais da SOCICOM e da ALAIC, paulino@unb.br