Realizado em outubro na ECA-USP, o Seminário proporcionou oportunidade para o diálogo e a troca de experiências entre entidades científicas e acadêmicas filiadas à Socicom. O principal debate foi sobre o papel das ciências humanas e da comunicação no desenvolvimento e democratização da ciência no Brasil.
Fomentar o diálogo e a troca de experiências entre entidades científicas e acadêmicas da comunicação do país e discutir a formulação de políticas científicas e de formação de recursos humanos para a área. Foram com esses objetivos que a Socicom realizou o IX Seminário de Integração Institucional de 15 a 17 de outubro na ECA-USP.
O evento comemorou também os “10 anos de luta pela Comunicação” da entidade na defesa por melhores condições institucionais para o desenvolvimento da ciência, bem como a retomada do crescimento e manutenção da qualidade do ensino superior no Brasil.
Na solenidade de abertura, a presidente do Conselho Deliberativo da Socicom, Margarida Kunsch, destacou a importância da união das entidades científicas na defesa do campo da Comunicação e suas interfaces.
A ex-diretora da entidade, Maria Cristina Gobbi, lembrou a contribuição histórica do professor José Marques de Melo que vislumbrou na criação da Socicom uma oportunidade para fortalecer a grande área da Comunicação e agregar as associações existentes com o propósito de superar a fragmentação. Cristina destacou uma das iniciativas de José Marques que projetou a Socicom no debate nacional: o desenvolvimento da pesquisa e publicação de 11 volumes do Panorama da Comunicação e das Telecomunicações no Brasil.
Ruy Sardinha Lopes, presidente da Socicom, observou que vivemos tempos sombrios. Entende que o papel das comunicações no processo de desenvolvimento é resgatar o espirito utópico, promover a diversidade de ideias, ou seja, ser um espaço de pluralismo no combate ao pensamento único.
A principal discussão do evento foi sobre o papel das ciências humanas e da comunicação no desenvolvimento e democratização da ciência no Brasil. A mesa coordenada pelo Giovandro Ferreira da Intercom, contou com a participação de Fernanda Sobral da SBPC e do Fórum das Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas, da Maria Ataíde Malcher, representante das Humanidades no Conselho Deliberativo do CNPq e do Marco Roxo, presidente da Compós.
Maria Ataíde destacou a agenda de Educação e CT&I nas eleições 2018, quando as algumas das principais entidades político-científicas elaboraram cartas e manifestos endereçados aos candidatos dos Poderes Executivo e Legislativo. Um dos principais manifestos foi o da SBPC que pediu a todos os presidenciáveis a revogação da Lei do Teto de Gastos, bem como a extinção do contingenciamento dos recursos do FNDCT e de outros fundos setoriais, além da recuperação do orçamento para CT&I e a recriação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Para Ataíde, tornou-se necessário no atual cenário de mudança política fortalecer as instituições científicas, especialmente as áreas das Humanidades, além de unir esforços na Comunicação para produzir ciência de interesse social e qualificar alunos para que tenham competência crítica construtiva, propositiva e inovadora.
A representante da SBPC, Fernanda Sobral, destacou as adversidades enfrentadas este ano com a PEC 95, a perda de poder a partir da fusão do Ministério de Ciência e Tecnologia com Comunicações, e o crescente contingenciamento de recursos. Acredita que a área de Comunicação precisa estar atenta às tendências nas Políticas que influenciam o fomento à pesquisa. Entre elas, a internacionalização, a multidisciplinaridade/ interdisciplinaridade e a organização da pesquisa em redes e interação com a sociedade. Fernanda Sobral enfatizou os reflexos da globalização da pesquisa para a áreas de Humanidades, exigindo pesquisas prospectivas historiográficas, biográficas, antropológicas e sociológicas que possam evidenciar o histórico social das contradições postas pela globalização, bem como a adoção de uma abordagem interdisciplinar, colocando temáticas com maior grau de complexidade, e, finalmente, exigindo a existência de institucionalidades e recursos financeiros que suportem esse empreendimento.
O presidente da Compós, Marco Roxo, propôs repensar sobre qual comunicação está sendo debatida na atualidade e apontou a necessidade de pensar a contribuição dos pesquisadores para entender a relação das pessoas nas redes sociais e as grandes organizações midiáticas para viabilizar ações de interlocução dentro do ambiente político atual. Defendeu a necessidade de se pensar sobre política públicas capazes de lidar com as divergências na sociedade contemporânea.
Solenidade de abertura IX Seminário SOCICOM: 10 anos de conquistas e desafios. Foto Regina Cunha.
Conselho Deliberativo
O papel das entidades científicas de comunicação no Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia foi o tema da reunião dos membros do Conselho Deliberativo da Socicom que teve a coordenação de Maria Berenice Machado (UFRGS), com mediação de Maria José da Costa Oliveira. Participaram como expositores: Alessandra Meleiro (Forcine), Ana Rego (Alcar), Bruno Fuser (ABPCom), César Bolaño (Ulepicc), Cristina Schmidt (Socicom), Cristian Borges (Socine), Elaine Mergulhão (Folkcom), Fernando Paulino (Alaic), Giovandro Ferreira (Intercom), Ismar Soares (ABPeducom), Marcelo Bronosky (Abej), Margarida Kunsch (Abrapcorp), Monica Martinez (SBPJor), Roberto Gondo (Politicom) e Sebastião Squirra (ABCiber).
Reunião do Conselho Deliberativo. Foto Regina Cunha.
O Conselho Deliberativo deliberou e a Assembleia da SOCICOM aprovou várias sugestões de ações para o biênio 2018-2020:
1. Estreitar relações com a SBPC, incentivando que todas associações vinculadas à Socicom façam pedidos de filiação à entidade, bem com peçam aos seus pesquisadores para se filiarem como pessoa física.
2. Foi sugerido que as associações filiadas procurem atualizar seu cadastro junto ao CNPq para permitir que possam participar de processos de indicação de representantes, a exemplo da eleição de representante no Conselho Deliberativo da agência.
3. Constituição de um observatório de política públicas no âmbito da Socicom que possa produzir conhecimento e pesquisa com potencial de influenciar a construção de políticas na área de Comunicação.
4. Foi sugerido maior participação da entidade nos encontros e reuniões de discussão do Fórum de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (FCHSA).
5. Todos concordaram sobre a necessidade de debates o crescente processo de precarização da profissão de professor na rede de ensino superior brasileira.
6. A Presidente do Conselho Deliberativo da Socicom, Margarida Kunsch com apoio da Presidente da SBPJor, Monica Martinez, defenderam que haja um esforço das entidades no sentido de entender as novas demandas para financiamento da pesquisa.
7. Dirigente da Ulepicc, César Bolaño sugeriu que se defenda a revisão do sistema de financiamento para revistas científicas no Brasil pelo fato de ter restringido os recursos para revistas nas faixas B1 e B2. Entendeu-se também que é preciso revisar a forma de avaliação de livros devido as distorções já registradas.
8. Foi debatida a necessidade da Socicom colaborar para revisão de políticas da Capes para a pós-graduação no sentido de superar distorções como a cultura do artigo, paperismo, co-autoria com orientando, enfim combater o produtivismo estéril.
No final da programação, a Assembleia da SOCICOM sob coordenação da professora Margarida Kunsch elegeu a diretoria da entidade para o biênio 2018-2020 que estará sob a presidência da professora Ana Regina Rêgo. A posse da nova diretoria acontece em 9 de dezembro de 2018.
I Encontro Socicom de Editores de Revistas Científicas da Comunicação
Editores das Revistas BJR, Fábio Pereira e E-Compós, Thaiane Oliveira falando sobre lógicas, fluxos e possibilidades editoriais. Foto: Gabriel Razo.
Como parte do IX Seminário de Integração Institucional da Socicom foi realizado na ECA-USP, de 15 a 16 de outubro, o I Encontro de Editores de Revistas Científicas da Comunicação com o objetivo de discutir políticas editoriais e sustentabilidade dos periódicos de comunicação, internacionalização, indexação e fluxo editorial.
A primeira atividade do Encontro, no dia 15, foi um workshop ministrado pelos editores das Revistas BJR, Fábio Pereira e da E-Compós, Thaiane Oliveira, sobre as principais características do sistema SEER, lógicas, fluxos e possibilidades editoriais.
À tarde, os 34 editores participantes apresentaram para pesquisadores/as seus periódicos.
Indexação, internacionalização e indicadores de qualidade
Editores das Revistas BJR, Fábio Pereira e E-Compós, Thaiane Oliveira e André Serradas da Sibi/USP abordam acesso aberto, internacionalização, indexação, fluxo editorial. Foto: Gabriel Razo.
No dia 16, pela manhã, foi realizada uma mesa sobre o processo de indexação, a internacionalização, os indicadores de qualidade das revistas com a participação dos editores Fábio Pereira, da Revista BJR, Thaiane Oliveira da E-Compós, André Serradas da Sibi/USP e Edson Dalmonte, representante da |área na CAPES que falou rapidamente por telefone.
Fábio Pereira mostrou em sua exposição como funciona do mercado internacional de publicações. Revelou que enquanto os EUA produziram entre 2011-16 mais de dois milhões e meio de papers incluídos na base dados Web of Since, a produção brasileira é de pouco mais de 250 mil artigos. Defendeu intensificação da política de indexação para dar visibilidade à produção nacional. Citou como exemplo que dos 84 periódicos em Comunicação indexados na Web of Science não há nenhum brasileiro. Dos 100 periódicos recomendados pelo HCERES (França) na área de Ciências da Comunicação e da Informação existem apenas dois brasileiros: Informação e Sociedade e Brazilian Journalism Research. Sugeriu como estratégias de internacionalização a publicação de autores de referência, a produção de dossiê temáticos de vocação internacional e a circulação internacional de call for papers. Citou ainda outras estratégias como alinhar-se aos fluxos editoriais internacionais e mudar a cultura de autores e pareceristas em relação à pertinência dos artigos, ou seja fazer com que os autores escrevam a partir do ponto de vista de um público estrangeiro.
Thaiana Oliveira da E-Compós explicou como funciona o pré-print, uma nova modalidade de edição de artigos de revistas científicas. Trata-se de uma pré-publicação de artigos científicos que ainda não foram publicados em um periódico científico. Essa estrutura surgiu devido a necessidade de se acelerar a divulgação dos resultados das pesquisas científicas, com o propósito de se manter a comunicação científica entre os países sempre atualizada. Consiste no depósito de artigos em servidores especializados, que não foram submetidos a revisão por pares, cuja a responsabilidade da qualidade dos textos é totalmente dos autores. A pré-publicação permite que o autor receba um feedback do trabalho por colegas e leitores, bem como realizar modificações, até o momento em que decida publicá-lo em um periódico.
André Serradas explicou a lógica de funcionamento do SIBiUSP – Sistema Integrado de Bibliotecas da USP, órgão da Reitoria da Universidade de São Paulo, responsável por alinhar a gestão da informação, da produção intelectual e das bibliotecas institucionais aos objetivos da Universidade. Em funcionamento desde 1981, o sistema integra 48 bibliotecas alocadas em unidades de ensino e pesquisa, institutos especializados, museus e hospitais, distribuídos em campi localizados em cidades do estado de São Paulo. É uma referência nacional e internacional de excelência que abriga um acervo de cerca de 8 milhões de itens que cobrem todas as áreas do conhecimento. Em sintonia com as novas tecnologias, oferece acesso remoto a um acervo digital que compreende mais de 250 mil títulos de livros eletrônicos, e cerca de 20 mil títulos de periódicos mais de 80 bases de dados, além dos conteúdos, dos acervos disponíveis em suas Bibliotecas digitais.
Reunião dos editores de Revistas Científicas
No período da tarde, editores de revistas científicas, divididos em grupos de trabalho, discutiram os principais gargalos, dificuldades e sugestões de melhoria dos processos de avaliação entre pares. Em sessão plenária decidiram elaborar um documento a ser entregue ao representante de área de Comunicação na Capes, Edson Dalmonte, sugerindo mudanças no sistema Qualis de avaliação de revistas brasileiras.