Por Ana Regina Rêgo | Presidente da Socicom
“Estava sozinho. O passado estava morto. O futuro era inimaginável” (George Orwell,1984, 2009, p.38).
O romance distópico, 1984, de Orwell é um dos nossos pontos de partida para pensar os ataques cotidianos do atual governo aos campos da educação, ciência e tecnologia, mas também, ao meio-ambiente, saúde, etc., afinal já nos dizia esse autor, sobre os riscos das tensões políticas no presente, visto que “ quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado”.
O que estamos vendo e vivenciando é um verdadeiro ataque sem tréguas aos campos da educação e da ciência, que surge diariamente a cada frase pronunciada pelo Ministro da Educação, Abraham Weintraub, como também, pelas várias medidas anunciadas e muitas já publicadas.
De um lado, o ataque direto às ciências humanas e sociais, realizado não somente por declarações que procuram minimizar a importância desses campos científicos no contexto social, como também, por medidas que objetivam tanto diminuir as verbas para os cursos de filosofia e sociologia, por exemplo, como até mesmo extinguir esses cursos da oferta das Universidades Federais. Por outro lado, o corte de bolsas para pesquisa na pós-graduação repassadas através das agências de fomento CAPES e CNPq, que atingiu um grande número de pós-graduandos, conforme estudo do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Pesquisa de Pós-Graduação, divulgado recentemente. Na mesma frente de estratégias que objetivam desconstruir o campo da educação e da ciência, foi divulgado o congelamento (na versão oficial contingenciamento) de verbas para a educação.
Em carta enviada pela SOCICOM no dia 14 de maio, para os dirigentes de todas as nossas filiadas alertamos para o fato de que “ o bloqueio de 5,8 bilhões de reais do orçamento do MEC determinado pelo governo, agravou a situação para todas as universidades e institutos. Sem dinheiro para água, luz, manutenção e materiais, universidades e institutos federais podem ter funcionamento inviabilizado, um agravante para o setor que já enfrentava dificuldades desde a entrada em vigor da Emenda Constitucional 95, que congelou o aumento dos gastos públicos por 20 anos”.
Foi nesse sentido que na mesma carta já mencionada, propusemos ações conjuntas que possam fortalecer o campo da comunicação e que possam ser articuladas com instituições como a SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência que abrange e representa um número considerável de instituições e campos científicos. Dentre as proposições detalhadas em nosso documento destacamos que as filiadas podem/devem:
- Manifestar junto a nossa diretoria sobre a proposta de adesão definitiva da Socicom à Iniciativa para Ciência e Tecnologia no Parlamento (ICTP.br).
- Divulgar no site e canais de comunicação de sua entidade a adesão às ações nacionais em defesa da CT&I.
- Em resposta à desqualificação das Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas dar visibilidade às pesquisas de impacto social apresentadas no âmbito dos congressos científicos promovidos por sua entidade.
- Acompanhamento de audiências públicas realizadas no âmbito do Congresso Nacional e de Assembleias Legislativas sobre orçamento, financiamento, políticas públicas para educação, ciência e tecnologia.
- Articular mobilização em nível estadual junto às representações da SBPC tendo em vista articulação com as Assembleias Estaduais, objetivando sensibilizar e compor um movimento em nível nacional em defesa da Educação pública e da Ciência e Tecnologia.
- Mobilizar membros da entidade para que possam organizar ações junto aos deputados estaduais no sentido de garantir recursos orçamentários para as FAPs em 2019.
- Utilizar as redes sociais da entidade para ampliar a divulgação de diversas iniciativas em defesa da universidade pública.
Vale, portanto, retornar ao início do nosso texto, lembrando que hoje travamos batalhas não somente pelo presente, mas pelo passado, por isso, precisamos despertar a consciência histórica em nossa sociedade e evitar que a memória seja novamente silenciada. Hoje travamos batalhas nos campos da história, da educação e das ciências, com vistas a não anular o conhecimento acumulado ao longo dos séculos.
Lutamos contra uma história não factual, uma educação pragmática e uma não ciência que contesta os avanços de todos os tempos. Lutamos contra as narrativas informativas que não possuem base em fatos, mas somente se firmam em processos emocionais e em crenças, onde a checagem cede lugar a reflexividade pública obtida por meio de compartilhamento em redes sociais.
Não vislumbramos um trabalho fácil pela frente, mas devemos nos manter alertas e articulados, pois somente assim, poderemos formar uma frente ampla em defesa das nossas instituições públicas, em defesa da educação em nosso país, em defesa da pesquisa e do desenvolvimento científico.