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Fundação

A Comunicação como grande área de conhecimento

O ano de 2008 registrou um marco importante para o fortalecimento e desenvolvimento da Comunicação como campo de saber com a fundação da SOCICOM – Federação Brasileira das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação.

Criada oficialmente no dia 02 de setembro de 2008, em Natal – RN, a federação tem como uma de suas metas desenvolver ações destinadas à consolidação da Comunicação como Grande Área de Conhecimento, atuando junto às instituições responsáveis pelas políticas públicas de ciência e tecnologia, bem como os órgãos reguladores e avaliadores do ensino superior em nível de graduação e pós-graduação. A federação nacional tem papel estratégico no diálogo com os gestores de C&T e colabora para identificar as demandas de interesse comum.

No primeiro ano de funcionamento, doze entidades aderiram à criação da SOCICOM e outras começam a se incorporar, numa demonstração de que a comunidade acadêmica começa a dar passo decisivo para superar a fragmentação que a vem debilitando politicamente.

A criação da SOCICOM foi incentivada pelo Prof. Dr. José Marques de Melo como uma forma de criar as condições de diálogo entre as entidades da área, constituindo-se em fórum legítimo e adequado para o debate constante sobre o desenvolvimento científico, artístico e tecnológico da Comunicação.

O primeiro passo para a constituição da federação foi a realização do Fórum das Sociedades Científicas de Comunicação (I Socicom), entre 31 de agosto e 1º de setembro de 2007, no campus da Unisanta, em Santos, durante o congresso anual da Intercom. Na ocasião, as entidades científicas e acadêmicas de comunicação formaram uma comissão para encaminhar os trabalhos de criação de uma federação para representar os interesses da área frente às agências de fomento e contribuir com os órgãos de governo na elaboração de políticas para a pesquisa e ensino em comunicação.

Fundadores da Socicom na UFRN 2008. Da esquerda para direita professores Ana Silvia Médola, José Marques de Melo, César Bolaño, Margarida Maria Krohling Kunsch, Gerson Luiz Martins; Elias Machado Gonçalves, Eugenio Rondini Trivinho, Maria Imacolatta Vassalo Lopes, Betania Maciel, Adolpho Queiroz, Maria Berenice da Costa Machado e Carlos Eduardo Franciscarto.

Em 2008 foi realizada a assembleia de aprovação do estatuto de fundação da SOCICOM com a participação da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – Intercom, representada pelo professor Dr. José Marques de Melo; Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação – Compós, representada pela professora Dra. Ana Silvia Médola; Abrapcorp – Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação Corporativa e Relações Públicas, representada pela sua presidente, professora Dra. Margarida Maria Krohling Kunsch; do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo – FNPJ, representada pelo professor Dr. Gerson Luiz Martins; Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo – SBPJor, representada pelo professor Dr. Elias Machado Gonçalves; União Latina de Economia Política da Informação, Comunicação e Cultura – Seção Brasileira – ULEPICC-Brasil, representada pelo professor Dr. César Bolaño; Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura – ABCiber, representada pelo presidente, professor Dr. Eugenio Rondini Trivinho; Associação Brasileira de Pesquisa em História da Mídia – Rede Alcar, representada pela professora Dra. Marialva Barbosa; Associação Brasileira de Pesquisa em Comunicação – Rede de Estudo e Pesquisa em Folkcomunicação – Folkcom, representada pela presidente, professora Dra. Betania Maciel e Associação Brasileira de Jornalismo Científico – ABJC, representada na ocasião pelo professor Dr. Adolpho Queiroz. Embora impossibilitados de enviar representantes, a Forcine e a Socine, também são entidades fundadoras.

A assembleia de fundação da SOCICOM elegeu a primeira diretoria, composta pelos professores José Marques de Melo, presidente; Ana Silvia Médola, vice-presidente; Margarida Kunsch, diretora de relações internacionais; Elias Machado Gonçalves, diretor de relações nacionais e Anita Simis, diretora administrativa.

 

Instalado o 1º Conselho Delibertativo da SOCICOM

O Conselho Deliberativo da SOCICOM, instalado no dia 01 de dezembro de 2008 em reunião realizada na sede da federação em São Paulo, elegeu o prof. Dr. César Bolaño presidente do Conselho. Participaram da reunião de instalação do Conselho Deliberativo os membros da diretoria da SOCICOM, José Marques de Melo, Presidente; Ana Silvia Lopes Davi Médola, Vice-presidente; Margarida Maria Krohling Kunsch – Diretora de Relações internacionais, Anita Simis Diretora administrativa, além dos seguintes representantes das entidades filiadas: Adolpho Queiroz – Sociedade de Estudos Interdisciplinares em Comunicação, Intercom, Vera Regina Veiga França, da Associação Brasileira de Programas de Pós-Graduação em Comunicação, Compós; Cesar Ricardo Bolaño, da União Latinoamericana de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura, Capítulo Brasil, ULEPICC-Brasil; Eugenio Trivinho, da Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura, ABCiber, Gizely Coelho Hime, representando Marialva Barbosa da Associação Brasileira de pesquisadores de História da Mídia, Rede Alcar; e Betania Maciel da Rede de Estudo e Pesquisa em Folkcomunicação, Folkcom. Os representantes da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual Socine, Dora Mourão, SBPJor, Claudia Lago e Abrapcorp justificaram a ausência. Nesta primeira reunião ordinária foi aprovado o plano de metas da SOCICOM para o biênio 2008-2010 prevendo ações para a estruturação da entidade, consolidação das vias de diálogo entre os dirigentes das associações filiadas e segmentos da sociedade, além da ampla divulgação das atividades da federação e do pensamento comunicacional brasileiro.

 

1º Plano de Metas da SOCICOM

Em sua primeira reunião ordinária o Conselho Deliberativo da SOCICOM aprovou o Plano de Metas para o biênio 2008/2010 apresentado pela diretoria da federação. Organizado em linhas de atuação voltadas a estruturar, divulgar e consolidar a entidade. As ações estruturantes prevêem a constituição de um lastro financeiro capaz de assegurar o funcionamento da SOCICOM, através de quotas iniciais de participação das entidades fundadoras e de quotas anuais integralizadas pelas associações filiadas; publicação de um calendário dos eventos nacionais e internacionais de ciências da comunicação, estimulando o intercâmbio entre as associações, fomentando a participação de pesquisadores/professores de outros países. Também foi aprovada a constituição de uma base de dados com informações atualizadas sobre a área de Comunicação no país capaz de centralizar os dados de diferentes fontes como CAPES, CNPq, INEP, Ministério das Comunicações, Ministério da Educação, MCT; acompanhamento de assuntos relacionados com a área de Comunicação, ao longo dos próximos dois anos, através das audiências públicas na Câmara, no Senado e nos Ministérios. No âmbito internacional, a focalização orienta-se para atingir três alvos: Interlocução mais intensa com a comunidade internacional da área; fortalecimento da Comunidade Ibero-Americana de Ciências da Comunicação; disseminação do Pensamento Comunicacional Brasileiro no exterior.

 

SOCICOM integrou a Confederação Ibero-americana das Associações de Comunicação

A SOCICOM nasceu com o propósito de fomentar iniciativas de estímulo à cooperação entre instituições congêneres e de áreas conexas, no país e no exterior. Nesse sentido, uma das primeiras ações da federação voltadas à internacionalização da área foi a integração à Confederação Iberoamericana de Associações Nacionais e Megaregionais da Área de Comunicação – CIBERAMERICOM em 2009.

Na assembleia de constituição da Confederação a SOCICOM foi representada por seu presidente, José Marques de Melo, e membros da diretoria e do Conselho Deliberativo. O evento integrou a programação do XI IBERCOM – Congresso Ibero-Americano de Comunicação, realizado na Universidade da Madeira, cidade de Funchal, na atlântica Ilha da Madeira, Portugal, de 16 a 19 de abril de 2009.

 

José Marques explica a importância da Socicom e Confibercom

Em entrevista a Sociedade Brasileira de Pesquisadores em Jornalimos (SBPJor), publicada em 23 de maio de 2009, o professor José Marques de Melo presidente da Socicom e membro da diretoria da Confibercom falou da importância da criação de tais entidades para o campo da Comunicação e para o Brasil.

1. O que representa a fundação da SOCICOM e da CONFIBERCOM para o campo da Comunicação?

Elas fazem parte da batalha travada pelas ciências da comunicação para conquistar a legitimação institucional indispensável ao seu reconhecimento público e consequentemente à sua consolidação como campo do saber acadêmico. Enquanto a SOCICOM tem vocação para preservar e ampliar o espaço que já ocupamos no sistema nacional de ciência e tecnologia, a CONFIBERCOM foi criada com a missão de garantir a nossa sobrevivência na arena internacional. Sua meta é potencializar nossa participação, enquanto bloco culturalmente identificado, no cenário competitivo instaurado pela globalização voraz, cujo risco iminente é o de esmagar as diferenças, em benefício da matriz hegemônica que pode se converter em monopolista. Para melhor entender meu raciocínio e argumentação, podem ser úteis as evidências anotadas e discutidas em meu livro “História Política das Ciências da Comunicação” (Rio, Mauad, 2008).

2. Por que ainda é necessário fortalecer e reafirmar a Comunicação como campo de conhecimento?

Por duas razões. Pela fragmentação do campo, que surgiu academicamente vocacionado para produzir o conhecimento indispensável ao desenvolvimento dos processos cognitivos difundidos pelos meios de comunicação de massa, mas cuja assimilação pela universidade deu-se em condições precárias, nem sempre construtivas. Mas também pelo sentimento de subalternidade que contaminou o campo, quando se afastou da sua meta de produzir conhecimento aplicado para tentar legitimar-se como ramo epistemologicamente autossuficiente. Em face disso, perdemos a nossa identidade original e patinamos num terreno poroso, opaco, inseguro, oscilando entre as miragens forâneas e as marolas paroquiais.

3. Quais são as metas e curto e longo prazos previstas pelas duas entidades?

A SOCICOM pretende criar uma cultura de ação unitária perante as instâncias públicas que financiam a pesquisa, o ensino e a difusão do saber, respeitando naturalmente a diversidade que caracteriza cognitivamente o nosso campo. Além disso, superar o individualismo, o amiguismo e o clientelismo, substituindo-os pelo mérito, qualidade e interesse público. A CONFIBERCOM aspira construir um espaço culturalmente recortado pelas nossas raízes identitárias. A expectativa é a de superar a situação de dóceis consumidores do conhecimento etiquetado pelas matrizes hegemônicas, logrando fortalecer o conhecimento resultante do dinamismo cotidiano das nações, regiões, comunidades. Não se trata de descolar a atividade acadêmica dos padrões mundiais, mas de preservar a nossa autonomia cultural e garantir oportunidades de participação no banquete civilizatório.

4. Qual a importância para o Brasil de estabelecer a sede da CONFIBERCOM e realizar a I Conferência Mundial de Pesquisa em Comunicação Ibero-Americana e o I Fórum Ibero-Americano de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação no país?

O Brasil é um país que logrou construir um patrimônio cognitivo de grande porte, quantitativamente só ultrapassado pelos Estados Unidos, mas que se comporta timidamente no campo das ciências da comunicação. Chegou o momento de ocuparmos o espaço que nos compete na comunidade mundial da área, o que só será viável se nos associarmos aos países com os quais temos maior afinidade cultural. Sediar a confederação e seus eventos inaugurais significa demonstrar aos nossos parceiros que temos competência acumulada, sem pretender reproduzir o comportamento arrivista que marcou o perfil das antigas potências colonialistas.

5. Em que medida a criação de diversas associações em uma mesma área é produtiva para seu desenvolvimento?

As associações segmentadas refletem a natureza do próprio campo, que é multifacetado na sua origem. Até a década de 60 do século passado, as áreas de jornalismo, cinema, publicidade, rádio, televisão eram autônomas, a um só tempo cooperativas e competitivas. O campo da comunicação começou a ser implementado na década de 70, mesmo assim de forma gradual, apesar das políticas autoritárias remanescentes da ditadura militar. No setor produtivo, essa ramificação corporativa permanece até hoje. Foi no espaço universitário que aconteceu a pulverização das diferenças, como, por exemplo, a instituição do curso de comunicação no ensino de graduação, reduzindo a meras habilitações carreiras tradicionais vinculadas a profissões regulamentadas. O agravamento das tensões ocorreu na pós-graduação e na pesquisa, espaço que passou a ser monitorado por acadêmicos oriundos dos campos conexos e nem sempre dispostos a compreender a natureza multifacetada da comunicação. Essa geração adotou atitudes corporativas, até mesmo para justificar a sua presença na área adventícia. Sentindo-se ameaçadas pelos pares situados em segmentos específicos, suas lideranças conduziram a um beco quase sem saída, garantindo os escassos recursos destinados à pesquisa para os chamados “teóricos”, cabendo aos “práticos” as migalhas orçamentárias. Esse conflito gerou o movimento aparentemente separatista que vem fortalecendo as micro-corporações acadêmicas que a SOCICOM tenta aglutinar. Confiamos na possibilidade de superação desses antagonismos, cuja persistência só contribui para fragilizar as ciências da comunicação dento da comunidade científica nacional.

Fonte: Site SBPJor. Disponível em http://sbpjor.org.br/sbpjor/2009/05/23/entrevista-jose-marques-de-melo/